Quando começou a tocar os
primeiros acordes da melodia, rapidamente as lágrimas se formaram em seus
olhos, e antes mesmo da canção chegar ao segundo verso, elas já rolavam pelo
seu rosto.
Gostava daquela canção
muito antes de conhecê-la. No entanto, foi ao lado dela que ganhou um sentido.
Não que significasse algo
da história deles. Não era isso. Era mais aquele lance em que os astros se
alinham e, pah!, de repente, a música abarca tudo. Do princípio até o fim.
E, agora, sem ela em sua
vida, surgia outro significado.
Ouvindo e sofrendo com cada
palavra daquela balada, ele também queria ser jovem e fugir da cidade; enterrar
os sonhos sob o chão; beber até morrer.
Queria uma arma de caça
para abater a maior das feras: a dor.
Se estivesse ali, ela
responderia que a maior das feras era ele mesmo e a sua podridão. Ele gritaria –
pois era o que sempre fazia – tentando convencê-la do contrário, porém, lá
dentro dele, assentiria. Concordaria com tudo e se declararia o rei das feras.
E, assim, estava aberta a
temporada de autocomiseração.
Sentiu-se no mais absoluto
clichê: a música tocando, ele chorando, o copo de bebida na mão.
Chuva... Faltava chuva.
Para ser um clichê total, precisava de um temporal caindo lá fora. Porém,
aquela época do ano era sempre seca. Não iria chover. E deus algum iria atender
esse capricho dele para alimentar ainda mais o seu espetáculo de vitimismo.
Queria chuva e como não
tinha, chorou por isso. Chorou porque a bebida estava acabando. Chorou por
causa da canção. E, por fim, chorou porque sentia saudade dela.
Um completo e medíocre
clichê.
Conversou mentalmente com
ela, tentou justificar o injustificável. Pediu desculpa. Mandou se foder.
"Maldito elefante!", gritou. E cantou e bebeu e chorou.
Com a música chegando ao
final, ele já se preparava para pressionar o repeat. Precisava chorar um pouco
mais.
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