sábado, 27 de junho de 2015

PORNÔ REBELDE

#TECO#

- O que foi isso?
- Hã?! Nada!
- Por que fechou o notebook tão rápido?
- Por nada.
- Nada? Eu entrei aqui e ‘cê fechou o note.
- Foi coincidência.
- O que ‘cê ‘tava vendo?
- Nada. Por isso fechei.
- Fala logo.
- Ok, eu falo! Eu... ‘Tava assistindo pornô.
- Verdade?
- Aham.
- Deixa eu ver.
- O quê??!! Não!! Pra quê??!!
- Ué, eu quero ver o que ‘cê ‘tava vendo.
- Não!! Claro que não!!
- Por quê?
- Porque vou ficar constrangido.
- “Constrangido”...? Me fala a verdade, o que ‘cê ‘tava assistindo?
- Já falei!!
- Eu quero ver!
- Não!
- ‘Tava assistindo clip do “RBD“ de novo, né?
- Hã?! Quê?! C-claro que não!
- Me mostra.
- ...
- Mostra.
- Ok, ok!! Era clip do RBD, sim!!
- Antes fosse pornô.

- ...

quarta-feira, 10 de junho de 2015

FAKE



"FAKE", primeiro romance de FELIPE BARENCO, conta a história de Téo, um jovem que acaba de entrar na universidade – para o curso de Direito –, é virgem, gay [não assumido para a família] e um romântico incorrigível que vive em um Rio de Janeiro não estereotipado.

Narrada pelo próprio Téo, nós acompanharemos suas relações, seja familiar, amorosa e de amizade. Com seus momentos conturbados – namorar alguém problemático, assumir para família sua sexualidade, manter uma amizade quando sente algo diferente pela pessoa – e/ou felizes – namorar alguém que te faz sentir especial, compartilhar alegrias com os amigos verdadeiros e trabalhar com aquilo que ama.

Felipe Barenco possui um bom domínio da narrativa, com uma escrita irreverente, personagens bem construídos e uma estrutura de escrita diferente da que estamos habituados na Literatura, mas não na vida cotidiana – principalmente àqueles acostumados com redes sociais [Oi? Todo mundo hoje em dia!]. Como o uso de emojis para representar não só as conversas entre personagens, mas também o sentimento deles no momento [eu, por exemplo, fiquei assim ao terminar o livro =) ]. Palavras e frases tachadas [aquele risquinho no meio para fingir uma rasura e ser cool porque escreveu algo engraçaducho, mas mesmo assim quer fazer parecer que desistiu]. E estrutura visual de mensagens [torpedo ou inbox].
Sem contar que acompanhamos a evolução na comunicação à distância, quando cita “telefonemas”, “e-mails”, “torpedos”, “Orkut” [sdds], “MSN” [ <3 ], “Skype” e “Facebook” [não chegou ao “Whatsapp”].

A cada nova página, Téo nos surpreende e/ou emociona com momentos de tensão, dúvida, dor, arrependimento, desejo, perda e perseverança. E mesmo sendo ele o narrador, de alguma forma, compreendemos que ele é justo com todos os personagens que orbitam sua história/Vida sem parecer que está nos manipulando através da sua verdade [Bentinho ficaria orgulhoso, ou com inveja]. O que nos leva a amar alguns [Tiago, Tia Eleonora, Vó Maria Helena, Fernanda, Guilherme e Lulu!] e odiar outros [todos na sala olham para Davi neste momento].
Sem dúvida, o livro desperta em nós um desejo de que ele poderia – e DEVERIA – ser “maior”, ter muito mais páginas, só para que pudéssemos ter capítulos exclusivos para cada um desses personagens tão cheios de vida! Sério, quem não iria querer saber um pouco mais sobre o Guilherme, Fernanda ou Lulu?! rs

O livro possui uma diagramação bonita e uma capa simples e belíssima.
É inevitável a identificação não só com a história ou o personagem principal, mas com todo o universo construído, pois ele, o livro, aborda de forma muito natural as consequências das decisões  que fazemos nesse meio tempo entre nascer e morrer que chamamos de “Viver”.

Apesar de ser um romance e o personagem ser um romântico incorrigível, “Fake” não se propõe ser uma historinha de amor melosa e feliz. O livro trata de relacionamentos em todas as suas esferas; escolhas – as certas, as erradas e as duvidosas –; e, talvez, principalmente, fala sobre o amor próprio.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

ELE, EU, ELE*

            Ele... Eu... Ele... Sei lá! Vou chamar de “ele” mesmo sendo “eu”.
            Ele andava na mesma calçada que eu, mas no sentido contrário. Esbarrou em mim. Caímos. Ao olhar para ele... Era eu!!
            Não consegui levantar. Ele riu, levantou-se e estendeu a mão para me ajudar como se tudo aquilo já estivesse combinado.
            Continuei imóvel. Ele riu de novo. Aquela gargalhada gostosa. Ou melhor, a minha gargalhada gostosa!
            Mais uma vez ofereceu a mão para me ajudar a levantar. Aceitei. Mão forte e ao mesmo tempo delicada.
            Apontou para um bar perto e me ofereceu uma bebida. Argumentei que as pessoas achariam estranho. Ele questionou o que seria estranho, pois, pensariam, no máximo, que éramos gêmeos. Fazia sentido. Mas... “Você sou eu!”, protestei. Ele riu. “Ninguém pensará assim”, disse e foi em direção ao bar.
            Entramos e ninguém pareceu nos notar – fiquei mais tranqüilo. Fomos para a mesa que fica ao fundo. Pedimos a mesma bebida: uísque puro, ou cowboy [assim mesmo, falando em inglês]. Pelo menos, no futuro, vou continuar bebendo a mesma coisa. De repente, isso me fez pensar: Ele, eu, ele é do futuro?
            Percebi que olhava para mim. Um olhar tão doce, solitário, triste. De menino que olha o brinquedo na vitrine da loja. Fiquei sem graça e virei o rosto para o lado. Depois, decidido, voltei a falar: “Você sou eu!” Ele ficou em silêncio, apenas me encarando. Repeti: “Você sou eu!”. Mas fomos interrompidos pelo garçom que trazia nossas bebidas. Ele virou em um só gole, do jeito que eu faço. “Bebe, vai”. Também virei o meu. Estendeu a mão para o alto e pediu ao garçom mais duas doses. E assim, ficamos a noite toda, bebendo em silêncio.
Após algum tempo, perguntei o que ele, eu, ele fazia aqui. “Vim encontrar você”, respondeu displicente. Então pegou minha mão e disse, “Me leva pra sua, minha, nossa casa”, e sorriu. Foi a minha vez de ficar calado. Levantou-se e me puxou pela mão e disse que sabia o caminho. Saímos do bar e pegamos um táxi. “Rua assim, assim”, falou ao taxista. Daí olhou para mim com um ar maroto como quem diz “Viu, eu sei!”.
            Ao chegarmos em casa, foi até o som e colocou a minha, nossa música preferida e me puxou para dançar. Mesmo longe dos olhares reprovadores, fiquei constrangido. Abraçou-me apertado e sua respiração forte fez os pelos da minha nuca eriçarem. Mais uma vez, olhou fundo em meus olhos. Ah, aquele olhar!
            Apesar de não ver rugas em seu rosto, sentia, sabia que ele era mais velho que eu. Não me contive e perguntei:
- Você veio do futuro? “Por que acha isso?”
- Então, veio do passado? “Por que acha isso?”
- Somos a mesma pessoa e, além de absurdo, isso não pode acontecer, pois—E exatamente como fazem nos filmes, ele colocou o seu indicador em meus lábios, me calando. “Shhh... Nada importa. Apenas o fato de que eu estou aqui”.
Encostou o rosto no meu. Sua, minha, sua barba por fazer quando roçou na minha pele me deixou tonto, então, ele, eu, ele me beijou apaixonadamente. Tirou minha roupa, tirou sua roupa. Abraçamo-nos e, aos beijos, fomos para a cama. Com força, me virou, puxou meu cabelo para trás e entrou em mim – eu entrei em mim – como nunca nenhum outro entrou. Senti tudo de uma forma totalmente nova. Podia sentir ele, eu, ele em mim. E sentia eu, ele, eu nele.
            Quase em êxtase, sussurrei: Nada importa. Só que ele, eu, ele está aqui.
            E como uma onda cálida banhando nossos corpos, gozamos.



(*) TEXTO ORIGINALMENTE PUBLICADO NO SITE VEM-VÉRTEBRAS.