sábado, 1 de junho de 2013

VIM-ME EMBORA DE PASÁRGADA

Vim-me embora de Pasárgada
Lá não adianta ser amigo do Rei
Nem mesmo com a mulher que eu quis
Na cama que escolhi

Vim-me embora de Pasárgada

Vim-me embora de Pasárgada
Lá também eu não era feliz
Lá a existência é uma loucura
De tal modo intransigente
Que Joana a Louca de Espanha

Rainha, porém, não tão demente
Nunca foi contraparente
Da nora que nunca tive

Era impossível fazer ginástica
E andar de bicicleta
Caí montando burro brabo
E escorreguei do pau-de-sebo
Quase me afoguei no mar!
E depois de tudo, já muito cansado
Deitei na beira do rio
Chamando Mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar

Vim-me embora de Pasárgada
Em Pasárgada falta tudo
Nem parece uma civilização
Sem um processo seguro
De impedir concepção
Telefones são quebrados
Ah, alcalóide tem sim, à vontade!
Prostitutas bonitas também tem
Para a gente... err... namorar

E é claro que fiquei triste
E triste de não ter jeito
E à noite me deu
Vontade de me matar
— Lá não adianta ser amigo do rei —

Nem mesmo com a mulher que eu quis
Na cama que escolhi

Vim-me embora de Pasárgada.


[da série "Desconstruindo Grandes Poemas". A partir do poema "Vou-me Embora Pra Pasárgada" de Manoel Bandeira]

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