quarta-feira, 20 de abril de 2022

SABOR IDÊNTICO AO NATURAL

 

Livro Sabor Idêntico ao Natural

SEM VIAGEM no Tempo, painéis com luzes piscando, encontro com seres espaciais e o "pew-pew" de pistolas lasers, o que sobra para falar na ficção científica?

Se depender de Nathalie Lourenço ( @craudia ), muita coisa!

Em "Sabor Idêntico ao Natural", Nathalie utiliza o gênero sci-fi para tratar de assuntos pertinentes à atualidade. Passeando pelo ordinário, ela faz o leitor criar uma identificação e uma conexão, ao ponto de dizer/pensar "Isso quase aconteceu com alguém qu'eu conheço".

Esse é o segundo livro de contos da autora (o primeiro é "Morri por Educação". Também resenhado aqui. E do pequeno livro com grandes poemas "Lusco-Fusca". Além de diversos contos em coletâneas de livros e/ou revistas literárias), e pode ser adquirido no site da editora Vacatussa.

O título é perfeito, pois é uma obra que trata de todas as artificialidades contemporâneas. Seja aquilo que a gente come, fingindo ser o gosto real, sejam as relações que fingimos viver em sua completude.

É um livro que, claramente, pode virar uma obra audiovisual (uma série antológica, por exemplo). Mas não é isso que dá o seu mérito. E muito menos deve ser apenas comparada a uma famosa série. Pois há influência de todo universo da Ficção Científica, qu'é bem maior que qualquer "espelho negro".

"Sabor" é sci-fi da melhor qualidade por conta de sua acuidade narrativa. E conduzir uma narrativa envolvente é algo que Nathalie faz de olhos fechados.

A autora sabe usar o humor, o trágico, o atual e o inesperado de forma tão fluída, que pensar nesse "Amanhã Tecnológico" como sendo o "Hoje Tecnológico" é fácil e inevitável. 'Tá tudo ali: a exploração do trabalhador; a gordofobia; a alienação pela tecnologia; a "maquinização" do ser humano e a humanização das máquinas.

E se o sabor do Futuro é idêntico ao natural, essa obra deixa bem claro qu'esse sabor é agridoce.


segunda-feira, 11 de abril de 2022

 

CAPA DO LIVRO A MÁQUINA

TEM GENTE QUE, por Amor, é capaz de ir longe que só a gota. Mas é longe que só a gota no Tempo, qu’é mais longe que longe que só a gota no Espaço. E longe que só a gota no Tempo é de onde Antônio vem. Ele qu’é apaixonado por Karina e, por ela, é capaz de fazer tudo.

Karina, assim como a maioria das pessoas que moram em Nordestina, tem o sonho de ir embora de lá para “conhecer o mundo”, e Antônio tem o sonho de ficar em Nordestina para sempre – com Karina.

Quando a garota se mostra determinada a ir embora, Antônio não vê outra alternativa a não ser apelar para o Tempo. É qu’ele tem uma certa relação com o Tempo e vai se valer disso para garantir que Karina permaneça ali, do seu lado. Então, Antônio vai à Capital e anuncia em um programa de TV que viajará cinquenta anos no futuro. E mais, vai fazer tudo isso na frente das câmeras, em Nordestina. E promete construir uma máquina com diversas lâminas giratórias, pois caso ele não consiga viajar no Tempo, essa tal máquina irá transformá-lo em pedacinhos.

Antônio chama a atenção do mundo todo até Nordestina e, assim, leva o mundo até Karina, sem que seja necessário ela ir embora de lá.

“A Máquina”, livro de Adriana Falcão, possui diálogos cheios de vida e espontaneidade e uma clara influência da Literatura de Cordel – remetendo a uma atmosfera quase teatral. Tanto que o livro foi adaptado para o teatro e, depois, para o cinema, sendo dirigido, nas duas situações, pelo esposo da autora, João Falcão (é um dos poucos casos em que o filme saiu melhor que o livro. Pois o filme desenvolve melhor algumas tramas e dramas). E é essa vida presente na obra que nos faz apaixonar e torcer pelo herói.

Então, no dia e hora acertado, diante de todos, Antônio se coloca no meio da praça de Nordestina e pretende mostrar que pode, sim, viajar pro Futuro.

Depois disso, qualquer coisa que se diga é spoiler.

E não é justo contar como a história termina antes que Antônio chegue. Afinal, lá de onde Antônio vem é longe que só a gota.

quinta-feira, 7 de abril de 2022

MORRI POR EDUCAÇÃO

 

“MORRI POR EDUCAÇÃO”, de Nathalie Lourenço, é um livro de contos com dezessete histórias que passeiam pelo trágico, ridículo, feio e belo. Porém, sempre cômico em todas as situações.

Apesar de ser seu livro (solo) de estreia, Nathalie nos deixa bem claro que, de estreante, a ela não tem nada. E quem prova isso não são seus diversos textos publicados em coletâneas ou revistas ou mesmo trabalhos para a publicidade (ela é também redatora publicitária), mas sim, o poder de envolvimento em sua escrita que nos faz saborear cada texto com uma sensação especial. Coisa de quem sabe bem o que está fazendo

A autora sabe o que falar, como falar e quando falar. Ela tem a capacidade de tratar situações corriqueiras e banais sem ser desinteressante. Tem domínio sobre o que escreve, mas nem de longe parece uma escrita programada. E assim, se mostra uma verdadeira contadora de histórias com o seu humor - por vezes - ácido e sempre autêntico.

terça-feira, 5 de abril de 2022

CARA-UNICÓRNIO VOL. 02

capa de Cara-Unicórnio vol. 02

HÁ TRÊS ANOS, eu fiz uma resenha sobre "Cara-Unicórnio vol. 01" (que pode ser conferida aqui no blog) e ao ler agora o segundo volume, vejo que aquela resenha funciona perfeitamente para esta edição.

Não que o vol 02 não traga nada de novo. Mas é que, com exceção da história de origem (que não tem neste, óbvio), vemos as mesmas situações do volume um. No que diz respeito ao personagem principal continuar questionando o seu lugar no mundo, continuar sendo um herói um tanto atrapalhado, e as histórias sempre abordando diversidade, exposição de preconceitos e intolerância. Principalmente com a comunidade LGBTQIAP+. Porém, essas semelhanças em nada diminuem o mérito da nova HQ. Que permanece nos fazendo refletir enquanto nos diverte.

Neste volume, alguns novos vilões são apresentados (cada um com um design mais maravilhoso que o outro). Todos nutrindo ódio pelo Cara e com a clara intenção de machucá-lo. Por outro lado, vemos os personagens aliados do herói cada vez mais dispostos a ajudá-lo - ele até tem o seu próprio "Robin" -, porém, alguns deles têm segredos e querem mantê-los bem guardados. Inclusive do nosso protagonista.
Provavelmente, a revelação desses segredos fica para o próximo volume (será?). Só espero que a parte 03 não demore muito a ser lançada.

Cara-Unicórnio está passando por algumas mudanças que nem ele entende, mas continua com o seu senso de justiça à flor da pele, ajudando não importa quem e mostrando que mesmo enfrentando maus bocados, mantém o seu coração no lugar certo.

"Cara-Unicórnio vol. 02", HQ escrita e desenhada por Adri A., assim como a anterior, foi realizada por financiamento coletivo (teve uma pandemia no meio que atrapalhou um pouco, mas deu tudo certo no final). Nos mostra um herói nacional que bebe da fonte de diversos heróis estrangeiros, se banha em seus clichês, mas entrega algo totalmente particular e novo.

A leitura continua sendo bastante agradável e divertida.

sábado, 12 de junho de 2021

PABLO

CHEGA A SEXTA-FEIRA e, com ela, aquela vontade imensa de sextar em algum lugar com música, de preferência ao vivo para cantar a plenos pulmões até ficar rouco. E se for um karaokê, melhor ainda! Mas como a palavra de ordem atualmente é ficar em casa, que tal um party game que pede de você apenas uma boa memória musical? "PABLO", criado por Marcos Mayora e Kevlin Ciesca, tem uma duração média de 30min. e participam de dois a dez jogadores/cantores. Cada um recebe cinco cartas (ou "notas") com palavras - em Português e Inglês - do deck que foi previamente embaralhado. E cinco cartas ficam abertas sobre a mesa para serem compradas durante os turnos ao lado do deck de compra. Com as cartas na mão, o jogador deve escolher, pelo menos, uma delas e a partir da palavra na carta em questão, cantar uma música cuja palavra ele encaixe. Exemplo: tenho uma carta/nota com a palavra "Amor". Escolho essa nota, coloco na mesa e canto 🎶O amor é tão lindo (oh oh) / A vida é tão bela (oh oh) / Vamos construindo (oh oh ) a paz dentro dela🎶 E para músicas que possuem onomatopeia, ainda há um marcador que aumenta a pontuação. Pronto. De acordo com a pontuação que há na carta, essa será a minha pontuação. Se eu conseguir incluir mais cartas - que estão na minha mão - mais pontos farei. Durante o turno de um jogador, outro que também souber a música, pode cantar junto e descer notas que possuir caso se encaixem na música que está sendo cantada. Este pontuará pelas notas que baixou. Importante frisar que o jogador que canta junto (fora do seu turno) não poderá usar o marcador de onomatopeia para dobrar sua pontuação. Ao fim do turno o jogador da vez e todos os demais que pontuaram recolhem os discos (tokens de pontuação) de valor equivalente a pontuação. Amante de karaokê que sou (#sdds Kant Bar!), acho mais divertido quando se canta desafinado (rsrs), mas saiba que há um token de "tomate" para você jogar em quem cantar muito mal. Pablo pode ser a grande oportunidade para você soltar o gogó e impressionar a todes com a sua voz de anjo. Se, diferente deste que vos escreve, você é jovem e não entendeu por que o jogo se chama "Pablo", essa é uma boa sacada dos criadores fazendo referência ao nome de um rapaz que fazia parte de um programa musical (pesquise no YouTube "Pablo qual é a música") que ficou no imaginário popular de algumas décadas atrás. Pablo é um jogo leve, rápido e muito divertido.

segunda-feira, 7 de junho de 2021

ASTRONAUTA - PARALLAX

 

Capa dura da graphic novel Astronauta - Parallax

“PARALLAX", QUINTO VOLUME da série graphic MSP do Astronauta, definitivamente, já não trata mais sobre solidão ou existencialismo (tão bem trabalhada em “Magnetar", seu primeiro volume e ainda o meu preferido da saga!). Há algumas edições que o autor, Danilo Beyruth @necronauta , deu uma guinada na trajetória do herói e nos entrega uma verdadeira space opera.

Nesta edição, acompanhamos três linhas narrativas. Curiosamente, o personagem principal atua ativamente nas três. Porém, sem ser o mesmo. São três Astronautas de universos paralelos, em ação. O Astronauta que já acompanhamos das edições anteriores está com Isa, filha do Astronauta apresentado em “Assemetria". Os dois estão em busca de encontrar os pais da garota. Enquanto isso, o segundo, de aparência mais velha, cansada e uma barba longa (ele me lembrou MUITO o Coronel Weird de “Balckhammer"), ao lado de Ritinha, sua esposa (nessa versão, ele conseguiu equilibrar a vida no espaço e a vida com Ritinha), também busca uma forma de reencontrar sua filha. E o terceiro Astronauta, o vilão da edição, serve à poderosa pirata espacial Cabeleira Negra, e tem como objetivo particular capturar as Ritinhas de todas as realidades e às mantém presas para si. Talvez, um Astronauta amargurado pelas próprias escolhas tenha como destino se transformar em alguém cruel e perigoso.

Danilo Beyruth criou uma saga bem amarrada com diversos elementos que se interligam. Não só com as edições anteriores como com a edição “Tormenta", de Capitão Feio (de Marcelo e Magno Costa). Expandiu um universo e o explora com maestria – coisa que um bom “nauta" sabe fazer.

“PARALLAX" se recupera da pequena perda de fôlego que ocorreu em “Entropia" (não é uma revista ruim, mas é inferior às outras três antes dela e a esta agora). E entrega uma GMSP bem estruturada, empolgante e envolvente. Sem contar o final que cria uma expectativa gigante para o próximo volume.